Esse texto veio de uma das listas que participo.
Foi escrito por Ricardo Jones, obstetra humanizado, muito fera, lá de Porto Alegre. Achei bem interessante sua discussão. Realmente é algo a se pensar!!
Vale a pena ler...
Beijos
Foi escrito por Ricardo Jones, obstetra humanizado, muito fera, lá de Porto Alegre. Achei bem interessante sua discussão. Realmente é algo a se pensar!!
Vale a pena ler...
Beijos

Mantendo-se ainda no debate sobre a amamentação e suas conexões com o amor...
Outra questão que sempre me angustia:
"Porque as mulheres continuam acreditando que podem diminuir suas angústias desmerecendo seus desafios?"
Vejo o contrário nos homens, e isso talvez tenha a ver com a nossa eterna preparação para o embate e a guerra. Nenhum homem que conheço desmerece suas conquistas pelo medo de sucumbir ao fracasso. Sabemos que o preço da ambição é a dor da falha, mas a sombra da perda serve como estímulo ao nosso esforço em busca do sucesso e da glória.
Porque o medo de falhar imobiliza as mulheres?
O roteiro é sempre o mesmo: para não sofrer com o insucesso de um nascimento mais saudável e fisiológico, direi que o parto normal "não é tão importante assim; o que vale é o bebê estar bem e a mãe com saúde". Para não me atormentar com uma amamentação insuficiente, direi que "ela não é tão grandiosa assim, e que não é um ato de amor. Direi que a amamentação é apenas alimento, e que este pode até ser substituído, caso necessário". Afinal, quantas crianças foram desmamadas precocemente e acabaram sobrevivendo? (inclusive este articulista)
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais, gritava Belchior - pela voz de Elis - nos meus ouvidos de menino. E ele estava coberto de razão. Nossa essência pouco mudou; o feminino ainda precisa se transmutar, amadurecer.
Parece que a revolução sexual, o "Women's Lib", a queima de sutiãs, a invasão do mercado de trabalho, a presença crescente na política, e tantas outras manifestações culturais positivas da mudança da mulher ainda não foram suficientes para resgatá-las plenamente da dependência e da síndrome de "coitadismo", que funciona como uma potente sedução ao imobilismo. É neste aspecto que acredito que as mulheres deveriam aprender com a experiência dos homens; é neste ponto que nossa testosterona pode ser de alguma utilidade. Se eu posso acreditar que o sucesso de nossa humanidade depende de um processo de equilíbrio, através de uma espécie de "feminilização" crescente na cultura, acredito também que existe espaço para o masculino no discurso feminino. O "hibridismo" psicológico fortalece o indivíduo (e, por extensão, a própria sociedade que o envolve), pois que o capacita a entender as diferentes linguagens nuances da cultura. Também deve ser objetivo das mulheres lutarem bravamente e com afinco para vencer seus desafios, sem se acovardar diante das adversidades, e sem a paralisia pelo temor de falhar. É importante que no terreno do feminino, como no parto e na amamentação, as mulheres possam usar o medo de fracassar como combustível no seu afã de conquistar e ter sucesso, e não como desculpa para desistir.
Olhem os jogadores de futebol diante de uma final de campeonato, e imaginem-se na mesma situação. Todos eles têm medo de perder, de não alcançar e de falhar. Entretanto, todos relatam que este medo funciona como um "doping moral", que os estimula a fazer todos os esforços possíveis para conseguir a vitória. As mulheres diante do desafio de suas capacidades como gestantes e mães devem se colocar da mesma forma. A tarefa é gigantesca, assim como serão enormes os esforços, mas estas dificuldades devem servir como estímulo à luta e à determinação.
Não se trata de enaltecer os homens, chamando-os de bravos; sequer de diminuir as mulheres tratando-as como fracas. Nada disso. Minha visão destas diferenças tem, sim, a ver com o aprendizado que cada um tem a oferecer e receber do outro. Os homens, na sua longa história de batalhas e guerras, entenderam que as grandes conquistas surgem das grandes dificuldades. As mulheres precisam entender que gestar, parir e amamentar são desafios tão eloqüentes e grandiosos como a conquista de um país ou a vitória em uma copa mundial.
Desmerecer seus desafios para se proteger da depressão do fracasso jamais tornou vitorioso ou virtuoso qualquer povo ou indivíduo.
Um beijo
Ric
Comentários