Ela me contou que no budismo há 3 "pecados" (não foi esse termo que ela usou, mas não lembro da palavra correta): o apego, a aversão e a ignorância. E todos eles estão ligados ao sofrimento!
Lógico, que a minha mente doulística logo relacionou isso ao mundo obstétrico!! Não sei se tendi da forma como deveria... mas tentem acompanhar meu pensamento.... rs
APEGO:
Quando estamos numa ótima situação, com tudo correndo bem, nos apegamos àquela situação. Não queremos mudar. Não queremos que nada influencie isso. Não aceitamos que a história de reverta! Mas como a Luceli disse, ninguém consegue viver na crista da onda o tempo todo!! Precisamos cair, entender porque caimos, para buscarmos forças para nos erguer novamente! Durante a gestação passamos por isso quando de repente, percebemos que teremos que mudar de médico para se conseguir parir. "Ah, mas ele é meu ginecologista há 15 anos!!!".... E dá medo de mudar, de procurar um novo, de trilhar novamente um caminho. Nos apegamos aquele profissional, mesmo sabendo que ele não irá prover tudo que necessitamos.... e remoendo tudo isso, sofremos.
No trabalho de parto, também podemos passar pela fase de apego. No início, achamos que tudo será ótimo! Que está gostoso sentir as contrações, mas quando elas se intensificam a coisa muda. E não gostamos da mudança!! E ficamos apegadas ao que acabamos de passar tão confortavelmente. Hesitamos, e resistimos às mudanças. É dificil se entregar às contrações mais intensas, à dor. Ao fundo. Não enxergamos que será desse "fundo" que nos reergueremos mais fortes, satisfeitas e esplendidas. E se não conseguimos enxergar.... sofremos.
AVERSÃO:
Quando não gostamos de uma situação, quando não queremos passar por certa experiência, a evitamos a todo custo. É a aversão. Não conseguimos enxergar outra maneira, não conseguimos perceber que essa "má situação" pode ser boa e deixamos de experimentá-la. Na gestação, vemos isso quando nos deparamos à situações de "quebra de rotina". "Doula? Parir? Parir de cócoras? Sem analgesia? Magiiiiiiiiina... credo! Deus me livre disso!! O quê? Parto é sexual? Sentir prazer? Lógico que não!!!"
Durante o trabalho de parto também temos um pouco de aversão... pois ela acaba sendo substituta do apego. Quando a fase de transição se aproxima, e há perda de controle e a racionalidade dá lugar aos instintos, temos medo. Repulsa. Aversão. Medo daquela fase de transição, da dor, da transformação que está por vir, dos instintos, do comportamento. Tensionamos. Nos fechamos, endurecemos, calamos, nos distanciamos de nós mesmas... e com isso, sofremos.
CEGUEIRA:
E a cegueira, vem junto das duas situações. Quando não queremos ver que tudo tem dois lados, que a vida é ciclica, que tudo tem altos e baixos, estamos cegos. Nada é pra sempre, nem o bom, nem o ruim... e tudo tem um significado! Na gestação vemos muuuuuuito isso. Quantas e quantas mulheres se deixam levar por uma cegueira "informacional" (nem sei se existe essa palavra). Por mais que haja informação, grupos, evidências, elas não enxergam outras possibilidades.... simplesmente entregam seus bebês e a si mesmas para o primeiro profissional que aparece. Não questionam, simplesmente por estarem apegadas ao comodismo e aversão de ter que ir atrás e se tornar responsável por algo muito maior
E no parto, as coisas funcionam assim também! Cada contração traz um aprendizado, uma oportunidade de reflexão, de transformação, de entrega.... e se fechamos os olhos para isso, também sofremos! E aí todo processo de amadurecimento dessa mulher, se torna horrível, dolorido, cinza...
Na gestação, no trabalho de parto e parto, assim como no Budismo, é necessária uma dose de esforço para se livrar do sofrimento. E para isso necessitamos de determinação, pois costumamos desanimar quando uma situação se mostra maior do que as nossas forças mais imediatas... Mas para gestar e parir um bebê, a mulher precisa encontrar forças onde ela nunca foi procurar. É necessário o esforço, o desapego, a aproximação e a visão clara para se conseguir atingir um objetivo!! E quando o objetivo é dar à luz de uma forma digna, respeitosa, prazerosa e iluminada, creio eu, que todo esforço recompensa.... principalmente quando lembramos que a dor é inevitável, mas o sofrimento é totalmente opcional!
Comentários