Hoje trouxe pra cá o relato de parto de uma amiga e doula, a Mirian Kedma. Vamos ter a opinião de quem sentiu e viveu todo poder de um parto normal após uma cesárea prévia!
02 de dezembro de 2011 - Nascimento da Sophia
Eu já estava há duas semanas com 2 cm de dilatação, entrando na semana 41 e nada. As contrações eram esporádicas e bem fracas, uma dorzinha no pé da barriga e só. A ansiedade já tinha tomado conta de toda a família e dos amigos; eu tentava não ficar ansiosa, ou ao menos não parecer.
No dia 1° de dezembro fui fazer uma cardiotocografia fetal bem cedinho, minha mãe me acompanhou e como era pertinho de casa decidimos ir à pé. Eu com aquele baita barrigão já me sentia cansada e quando andava ficava com falta de ar, mas não perdia oportunidade de fazer uma caminhada para ver se o TP engrenava de uma vez. Durante o exame a enfermeira me fez perceber que cada vez que eu sentia aquela falta de ar, estava tendo uma contração e até brincou comigo: - Domingo você já estará de neném no colo! –Será? Duvidei.
Nas duas últimas semanas eu tinha feito de tudo: litros de chá de gengibre e canela, comida apimentada, caminhadas, acupuntura e namoro (rs), tudo o que diziam que ajuda a induzir naturalmente o TP, a final eu não ia querer indução e menos passar por outra cesárea. Minha GO, Dra. Priscila Huguet, a Pri, deu uma ajudinha fazendo o descolamento de membranas e eu já estava perdendo o tampão mucoso há dias.
O fantasma da cesárea era algo que vinha me perseguindo, por mais que eu soubesse que tinha uma equipe humanizada do meu lado e que a minha médica não faria uma cesárea desnecessária, eu tinha medo de que alguma coisa saísse do controle na hora do parto e que eu tivesse que passar pela cirurgia novamente. Minha gravidez tinha sido tranquila, embora houvesse algumas condições "desfavoráveis", como dizia a minha doula: cesárea prévia, vários miomas e pré diabete gestacional, ah... e trinta e seis anos, quase uma vovó querendo parto normal, né? (nas mãos de outro médico seria cesárea, na certa!).
Minha primeira gravidez tinha terminado em cesárea, não eletiva, mas desnecessária. Na época, quase sete anos atrás eu tinha pouca informação. Sempre quis parto normal, mas não tinha suficiente conhecimento, empoderamento e coragem para trocar de médico e quando a médica me disse que se esperássemos um dia mais o bebê poderia morrer eu acreditei e meu bebê veio ao mundo desse jeito, às 40 semanas e um dia de gestação.
Naquela quinta de tarde tive mais uma consulta com a minha GO, estava tudo bem, mas o colo continuava posterior e os 2 cm de dilatação ainda estavam ali. "Podemos esperar até dia 9" - ela me disse e eu pensei: "Nossa, vai demorar então!"
Fui dormir sentindo aquelas contrações fraquinhas e esporádicas e acordei umas duas horas depois com elas mais ritmadas e fortes. Peguei o celular e fiquei monitorando o intervalo entre elas...de quinze em quinze minutos, depois de dez em dez... respirei, tentei relaxar para ver se paravam. Não queria acordar meu marido por um falso alarme, mas elas não foram embora... ficaram ali, se tornando cada vez mais ritmadas e próximas. Fiquei feliz, emocionadíssima, tinha chegado a hora de realizar o meu sonho!
Chamei o maridão e começamos a monitorar juntos as contrações, estavam vindo de 5 em 5 minutos e a dorzinha tinha começado a aumentar, tentei comer alguma coisa mas estava tão emocionada que só consegui tomar um chá com algumas torradas. Decidi tomar um banho quente, enquanto o Marcos ligava para a Rê (doula), eram umas 5 horas da manhã. Começamos a ouvir a seleção de músicas que tínhamos feito: Enya, Celtic Women e outros instrumentais deliciosos!
Pelo telefone a Rê me perguntou como estavam as contrações, se estava sentindo muita dor e me disse para voltar para o chuveiro e relaxar que ela já estava chegando. Fiquei bastante tempo na ducha, sentindo a água quentinha escorrer pelas costas, isso me trouxe alívio e me ajudou a me concentrar no trabalho que teria pela frente. Lá pelas 7 horas a Rê chegou, ficamos conversando, medindo a linha púrpura, rindo bastante e logo percebemos que as contrações começaram a ficar mais fortes. Quando vinham as contrações eu comecei a ficar na posição de cócoras ou de quatro na cama e comecei a pedir massagem nas costas, isso me aliviava bastante porque agora já não sentia dor no pé da barriga mas sim nas costas.
Ligamos para a GO e ela não estava em Campinas, estava de plantão em outra cidade, mas nos tranquilizou dizendo que chegaria a tempo...juro que nem pensei na possibilidade de ela não chegar...rsrs.
Ligamos para a GO e ela não estava em Campinas, estava de plantão em outra cidade, mas nos tranquilizou dizendo que chegaria a tempo...juro que nem pensei na possibilidade de ela não chegar...rsrs.
Mais ou menos uma hora depois cogitamos a ideia de ir para a maternidade, todo o mundo já tinha levantado, meu pai, minha mãe que tinham vindo de longe para o nascimento da netinha e meu outro filho de seis anos que não parava de fazer perguntas sobre a iminente chegada da irmãzinha. Decidimos ir logo antes que as contrações ficassem muito fortes para não pegar trânsito pesado, porque eu imaginei que devia ser desconfortável ir no banco de trás do carro sem poder me movimentar muito, e foi desconfortável sim...mesmo com a maternidade a cinco minutos de casa.
Chegamos lá e logo na recepção tive algumas contrações fortes, enquanto o marido preenchia formulários e fazia a papelada eu me sentei em uma cadeira e me debrucei na primeira mesa que encontrei. Lembro-me da Rê dizendo: - "Fica tranquila, se tiver que gemer, gritar, se abaixar durante as contrações, não fica com vergonha não!" Mas eu não estava com vergonha... eu não queria assustar as outras gestantes que estavam sentadinhas na recepção, quase todas esperando para serem internadas com sua cesárea marcada, imaginei. Levantei a cabeça e olhei para o lado, elas estavam assustadas e os maridos também... e eu só tinha dado uns gemidinhos...rsrsrs.
Chegamos lá e logo na recepção tive algumas contrações fortes, enquanto o marido preenchia formulários e fazia a papelada eu me sentei em uma cadeira e me debrucei na primeira mesa que encontrei. Lembro-me da Rê dizendo: - "Fica tranquila, se tiver que gemer, gritar, se abaixar durante as contrações, não fica com vergonha não!" Mas eu não estava com vergonha... eu não queria assustar as outras gestantes que estavam sentadinhas na recepção, quase todas esperando para serem internadas com sua cesárea marcada, imaginei. Levantei a cabeça e olhei para o lado, elas estavam assustadas e os maridos também... e eu só tinha dado uns gemidinhos...rsrsrs.
Subimos para o quarto e logo fui entrando novamente na ducha quente, ai que alívio, água quente e muita massagem nas costas, era tudo o que eu queria. Ficamos ali, contração trás contração esperando tudo acontecer naturalmente, não me lembro de muitas coisas, sei que passaram algumas horas, a dor aumentou e o cansaço também, mas eu não estava sofrendo. Muitos pensaram que sim porque os gemidos aumentaram e passaram a ser vocalizações e depois gritos. Mas eu não gritava como uma histérica, era um som que saía não só da garganta, era lá de dentro, como uma descarga de energia que vinha junto com a contração e que se materializava em som, em força.
Não lembro de ninguém entrando no quarto, mas me contaram que algumas enfermeiras perguntaram se estava tudo bem (he, he), só lembro de ver a Rê do meu lado e o Marcos sentado à minha frente. Fiquei de quatro, depois de joelhos e me apoiei nas pernas dele. Eu respirava, vocalizava, falei bobagens do tipo não aguento mais, quero anestesia e cesárea, mas tanto a Rê quanto o Marcos sabiam que não era verdade e me ajudaram a me focar, me recordando sempre que eu podia, que eu queria um parto natural e que faltava pouco, muito pouco. Quando a contração passava, eu conversava, descansava e cheguei até a pegar no sono algumas vezes.
Não sei quanto tempo passou, mas eu já estava bem cansada, as contrações eram muito seguidas e fortes. Uma hora ouvi a Rê falando no telefone com a Dra. Priscila, ela já estava a caminho. Até esse momento eu não tinha sido avaliada por nenhum médico, nem enfermeira, ninguém (graças a Deus, por que eu não queira...) então eu não sabia com quantos centímetros de dilatação estava, só podíamos saber que a Sophia não demoraria muito mais pela intensidade e frequência das contrações, pelo meu comportamento (já estava na "partolândia") e porque estava sentindo muita vontade de evacuar.
Perto do meio dia entrou uma moça com alguma coisa para comer, eu não quis, só aceitei beber água e Gatorade, nunca tinha sentido tanta sede! Depois entrou a enfermeira obstetra, a Dra. Priscila tinha pedido para ela me avaliar. Fui para a cama e no meio do caminho tive uma contração, longa, demorada, dolorida...o Marcos me segurou, me abraçou e me ajudou a subir na cama. A enfermeira se apresentou: - Olivia. Lembro que olhei pra ela e senti uma tranquilidade...que cabelo bonito que ela tem, pensei, longo e escuro... “Vou fazer um toque para ver como está a dilatação”...ela me disse.
-“Tudo bem”. “Peraí que lá vem outra contração....”
Nossa! Foram as duas contrações mais dolorosas e horríveis que tive. Eu estava deitada olhando pra cima, rapidamente me virei para o lado, mas a dor não diminuiu, doeu tudo, as costas, a barriga, as pernas, eu segurei o lençol com força e gritei, até que passou... Nessa hora imaginei como deve ser ruim ficar deitada durante o TP inteiro, sem poder se mexer com um monte de gente te dizendo o que fazer e o que não.
A enfermeira fez o toque. –“Não estou sentindo o seu colo do útero. Você está com dilatação total!”
-“Já? Obrigada Senhor! “– Eu não acreditava, pensei que ainda faltasse muito tempo, fiquei muito feliz e muito mais aliviada e confiante quando vi a obstetra chegar.
Um lençol foi colocado no chão e eu fui para a posição de cócoras. Marcos sentou na escadinha e me apoiava pelas costas. Eu fiz força mas a bebê não desceu. Segui as instruções da médica e mesmo assim ela não desceu! A Rê pegou um rebozo e decidiu fazer uma técnica de apoio com ele enquanto eu fazia força.
O rebozo é um tipo de xale feito de tecido e muito utilizado pelas parteiras no México, pode ser usado para fazer várias técnicas de relaxamento durante o trabalho de parto e ainda para ajudar o bebê a se posicionar corretamente. Mas apesar da utilização da técnica a bebê não descia.
A obstetra, então, verificou que a cabecinha da Sophia não estava na posição correta, mas após algumas manobras a posição foi corrigida e a bebê começou a descer. Troquei de posição umas três vezes e preferi ficar semi-sentada, na cama mesmo, com a cabeceira bem levantada a alguns travesseiros nas costas. A Sophia começou a descer bem devagar, toquei sua cabecinha e senti o seu cabelo, era cabeluda!!!
Eram 12:45h.
Ao Marcos, meu esposo, companheiro e amigo de todas as horas.
Aos meus filhos por serem a benção mais linda em minha vida. “Eis que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão” Salmo 127:3.
Aos meus pais por toda a ajuda, dedicação e o apoio que nos deram.
Comentários
Muitos beijos e abraços pra Miriam, pra Pri e proce, Re!
Que delicia de relato...
Nao vejo a hora...
Bjocas
Carol